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Relacionamentos Abusivos: uma forma patológica de amar

Olá! O assunto de hoje é Relacionamento Abusivo. Precisamos falar sobre isso! Os dois textos abaixo discutem um pouco sobre o conceito, os sintomas e a evolução de um relacionamento abusivo, ampliando o conceito para além de relacionamentos amorosos, passando pelo abuso exercido também em ambientes de trabalho, familiar e social. Há diversas formas de nos vincularmos às pessoas, podendo ser pelo amor, pelo ódio ou por vínculos patológicos tantalizantes. O primeiro texto aborda justamente o conceito do termo psicanalítico de Vínculo Tantalizante enquanto o segundo, por sua vez, perpassa os sintomas e os tipos de violência que podemos perceber em nosso dia-a-dia conosco ou com as pessoas à nossa volta. Penso que ao se conhecer mais os aspectos de uma relação abusiva e tomar contato com os tipos de violência pelos quais ela se manifesta, temos um instrumento a mais para nos ajudar e ajudar aos outros na percepção de que algo não está certo. Relacionamentos abusivos são fatores de risco para o desenvolvimento de diversas psicopatologias associadas, como depressão e ansiedade dos mais variados tipos. Reconhecer e buscar ajuda de um profissional são essenciais tendo em vista a saúde e bem estar de todos os envolvidos. Boa leitura!

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Relacionamentos Abusivos: uma forma patológica de amar (publicado em 11 de abril de 2017 por Gabriela Gomes em encenasaudemental.com | editado)

A psicóloga Raquel Silva Barreto, em entrevista ao Repórter Unesp, disse que uma “Relação abusiva é aquela onde predomina o excesso de poder sobre o outro. É o desejo de controlar o parceiro, de tê-lo para si. Esse comportamento, geralmente, inicia de modo sutil e aos poucos ultrapassa os limites causando sofrimento e mal-estar. ”

Zimerman, psicanalista norte americano, traz em seu livro Manual de Técnica Psicanalítica, em específico no capítulo intitulado Uma forma patológica de amar: O vínculo tantalizante, uma temática de grande relevância, no que se refere aos vínculos constituídos em forma de relacionamentos amorosos. Ao caracterizar-se os participantes desse vínculo amoroso, identifica-se dois personagens, um é o Dominador-sedutor, e o outro é o Dominado-seduzido. Na maioria das vezes, o homem assume o primeiro papel, enquanto a mulher assume o segundo. No entanto, também existem casos em que os papéis se invertem.

Zimerman, confere uma série de características pertinentes a esses dois personagens. Características essas que conotam uma forma patológica de amar, uma vez que percebe-se os sofrimentos decorrentes de tal configuração amorosa. O indivíduo que se encontra na posição de Dominador-sedutor é aquele que detém o poder/posse sobre o outro, das mais variadas maneiras, objetivando ser a “coisa” mais importante para seu parceiro, instituindo uma dependência, provocando assim a sensação de que o outro não consegue viver sem ele. Já o sujeito que ocupa o lugar de Dominado-seduzido é o inferiorizado da relação, sempre se comportando de forma submissa, encontrando-se na maior parte do tempo rendido, curvado e suplantado, ao seu dono Dominador.

Nota-se que há uma complementação de um com o outro, visto que o Dominador encontra no Dominado aquilo que ele precisa, e vice-versa, o que de acordo com Zimerman torna a separação tão complicada e sofredora para ambos. O autor divide o Vínculo amoroso tantalizante em quatro partes, sendo elas: Domínio, Apoderamento, Sedução, e Tantalizante. É importante destacar que as quatro partes existem e se concretizam concomitantemente nesse tipo de relacionamento.

O Domínio acontece quando o Dominado “Exerce uma apropriação, quase indébita, através de uma desapropriação dos bens afetivos e de uma violência a liberdade do outro” (ZIMERMAN, 2003, p. 335 ). O Sedutor possui a necessidade de exercer poder sobre o Seduzido, e para isso ele usa de variados recursos que possam torná-lo grande e poderoso. A dominação pode ser de caráter intelectual, moral, econômico, político, religioso, afetivo (ZIMERMAN, 2003). O Dominador não permite que o outro tenha autonomia e escolhas próprias e diferentes das suas, já que isso seria considerado uma perda do controle que ele exerce sobre o Dominado. Vale ressaltar que o Sedutor também usa de marcações no corpo do outro, percebidas em forma de chupões e arranhões, como forma de determinar seu poder/controle sobre seu parceiro. Quando o Seduzido curva-se a esse poder e controle, consequentemente sente-se subjugado e minimizado.

O Apoderamento é descrito pelo autor como sendo um “Poder e posse total em relação ao corpo, mente e espírito do outro” (ZIMERMAN, 2003, p. 335 ). De acordo com David E. Zimerman, o Dominador vê nessa atitude de posse, o único meio para conseguir o respeito e amor do outro, uma vez que na realidade ele sente medo de se encontrar desamparado em algum momento.

A Sedução consiste em uma das técnicas mais intensas usadas pelo Dominador-sedutor, com o objetivo de despertar no Seduzido uma espécie de fascinação e encantamento, fazendo com que o Dominado veja o Dominador como o “objeto” mais almejado e incrível que alguém poderia ter. Promete-se, “ (…) uma completude paradisíaca, que em pouco tempo se revelará como não mais do que ilusória e pelo contrário, se concretizará, como um emaranhado círculo vicioso de sucessivas decepções e renovadas ilusões (…)” (ZIMERMAN, 2003, p. 336 ). A última parte que caracteriza esse vínculo adoecido, chamada de Tantalizante, pode ser explicada no seguinte excerto, “Aquele que tantaliza, isto é, que espicaça ou atormenta com alguma coisa que, apresentada à vista, excite o desejo de possuí-la, frustrando-se este desejo continuamente por se manter o objeto fora de alcance, à maneira do suplício de tântalo.” (ZIMERMAN, 2003, p. 337). É necessário explicitar aqui, que a escolha desse termo provém do Mito Grego de Tântalo, no qual Tântalo, por ter roubado o manjar dos deuses, foi castigado por eles, sendo acorrentado imerso nas águas de um lago, sem conseguir se alimentar e beber, uma vez que às águas do lago trazem a comida, no entanto Tântalo nunca consegue alcança-la, consistindo-se num sofrimento eterno.

A relação análoga entre o mito e a forma patológica de amar, é vista quando há esse constante “dar e tirar” por parte do Dominador, que sempre se coloca em posição de impedimento em assumir um relacionamento estável, acontecendo assim periódicos términos e reaproximações, provocando um constante sofrimento, comparado ao mito de Tântalo que nunca consegue obter o que deseja. Contudo, David E. Zimerman, traz ainda em seu livro que para haver uma dissolução dessa relação adoecida e desses papéis adoecidos, é de suma importância que ambos os personagens, passem por tratamento psicológico, indicado por ele, como preferencialmente de cunho psicanalítico.

REFERÊNCIAS: ZIMERMAN, David. Manual de Técnica Psicanalítica. Editora: Artmed, 2003

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Relacionamento abusivo: conceito e o que fazer? (Publicado em 10/05/2019 por redaçãopsicanálise.com | editado)

O conceito mais aceito para definir relacionamento abusivo é aquele em que duas pessoas se relacionam, mas há excesso de poder. Dessa forma, uma subjuga a outra. Nesses relacionamentos há um registro de frequente violência. No entanto, essa violência não é apenas física, mas também moral, psicológica, sexual e patrimonial. Por hora, é preciso salientar que em um relacionamento abusivo todas as violências são possíveis, ainda que nem sempre ocorram. Assim, em alguns casos há ocorrência de apenas uma violência, em outros mais de uma, em outros se observa tudo.

O relacionamento abusivo também é comumente chamado de relacionamento tóxico. Esse termo tem força, pois a vítima, ou seja, quem sofre com o relacionamento, se torna doente. Assim, a pessoa não acredita mais em si mesma e não consegue viver sem o outro. Ademais, não enxerga, muitas vezes, que este relacionamento a fere.

Ambiente de trabalho: nesse caso, o relacionamento abusivo acontece, geralmente, em relações de hierarquia. Isso quer dizer que os comportamentos ocorrem entre superiores e seus supervisionados. Assim, ocorre sempre que o superior busca humilhar, diminuir e contrariar o subordinado. Dessa forma, diz que este não é capaz, ou coloca defeito em tudo que faz. Há exigências maiores e inalcançáveis constantemente postas sobre esse, e que não são colocadas sobre os outros. Parece uma tentativa contínua de fazer o outro errar.

Ambiente Familiar: são situações como as em que os pais fazem o filho se sentir menor ou menos amado até cumprir exigências pontuais deles. Por exemplo, quando os pais dizem que o filho será menos amado ou respeitado por não seguir uma determinada profissão, estão cometendo um abuso. É o que também se observa quando o filho é rejeitado por não continuar com os negócios da família. Assim, nem todo pai abusador é aquele que abusa sexualmente.

Nas amizades: dentro das relações de amizade, o relacionamento abusivo pode ser visto quando um amigo passa a ignorar o outro. Por outro lado, ocorre quando um tenta sempre inferiorizar o outro. Nessa relação, há sempre a necessidade do outro se mostrar melhor, de modo a fazer com que a vítima só seja feliz se o tiver ao lado.

Dessa forma, fica evidente que o conceito é aplicável em toda relação em que uma pessoa busca exercer poder excessivo sob a outra. Há uma busca pela inferiorização e dominância, deixando o outro à mercê da sua existência. Como reconhecer um relacionamento em que há abuso?

Violência Física: é o uso intencional de força física para ferir o outro. Pode causar hematomas, quebra de ossos, perfurações e causa dor. Pode ser causada pelas mãos ou com instrumentos, como faça, pedaço de madeira, etc.

Violência Moral: a violência moral ocorre quando uma pessoa produz calúnia, injuria e difamação sobre a outra. Sempre há a intenção de diminuir e provocar rejeição social da pessoa por um grupo.

Violência Psicológica: são agressões emocionais. Trata-se do momento em que uma pessoa ameaça, rejeita, descrimina, humilha, faz piadas com a intenção de ferir o outro.

Violência Sexual: é quando, através de coerção, investidas, ameaças, comentários se tenta obter sexo indesejado com alguém. Todas as vezes em que uma pessoa é obrigada, independente da forma, a fazer sexo mesmo não querendo configura-se um caso de violência sexual. Essa violência se dá, também, quando uma pessoa em estado de vulnerabilidade é abusada.

Violência Patrimonial: se considera violência patrimonial a retenção de qualquer documento, bens, dinheiro, pertences, direitos e recursos econômicos por uma das partes. Ou seja, quando uma das pessoas detém o que é do outro para o manter prisioneiro do relacionamento.

A partir disso, listamos alguns sinais que caracterizam um relacionamento abusivo:

Monitoramento constantes: a pessoa não pode fazer nada sem antes comunicar ao outro. Redes sociais sempre vigiadas. Ciúme exagerado e cobranças intensas.

Superioridade de um dos parceiros: um sempre tenta humilhar, diminuir, inferiorizar o companheiro. Assim, há uma necessidade de dizer que o outro não é ninguém sem ele, de modo que nunca encontrará alguém melhor. Muitas vezes faz o outro se sentir como uma pessoa louca e que começa a duvidar dela mesma.

Egoísmo: nessa situação, a pessoa faz o outro acreditar que só ela importa. Assim, apenas os sentimentos dela devem ser considerados e só ela possui problemas reais. Além disso, só os desejos dela devem se realizar, com isso, você precisa mudar seus hábitos e se regular ao outro. Dessa firma, fica claro que vida dele importa . Assim, é você que precisa se encaixar.

Traições: neste caso, observam-se traições frequentes, além da tentativa frequente de justificar os próprios atos.

Uso da pena para continuar: aqui há a promoção de compaixão para manter o relacionamento. Ou seja, sempre a pessoa apresenta algo que faz o outro tratá-la como uma coitada e continuar com ela. Ademais, essa pena pode ser provocada por o outro usar drogas, sofrer de problemas psicológicos, diferenças sociais. A pessoa sempre usa dessa vulnerabilidade para justificar seu comportamento, que muitas vezes é violento. Além disso, quer manter o indivíduo em questão por perto.

Como agir diante de um parceiro abusivo:

Você pode estar sofrendo um relacionamento abusivo, ou conhecer alguém nessa situação. Em todos os casos é importante pedir ajuda e oferecer ajuda. Nesse contexto, a Psicoterapia auxilia tanto a vítima quando os agressores, no sentido de que busca-se compreender a razão do comportamento.

O que temos claro é que o agressor busca atacar o emocional da vítima para deixá-la em baixo do seu poder. Assim sendo, é importante que ao se identificar um relacionamento abusivo a vítima busque fortalecer seu emocional. Esse fortalecimento pode ser com a ajuda de profissionais, amigos e, até, sozinho.

No entanto, a pessoa precisa buscar aumentar sua autoestima, seu valor pessoal. A partir do momento em que acreditar em si, verá que não precisa se submeter a um relacionamento que a faz se sentir menor. Só com o reconhecimento de si novamente como pessoa capaz, inteligente e amada, a pessoa pode dar um basta neste tipo de relacionamento. É um processo. É importante, quando se está na posição de amigo, ouvir, ajudar, instruir, mostrar compaixão e incentivar a pessoa no processo.

É importante salientar que não se deve julgar o outro e a si mesmo. Quando a pessoa sofre violência dentro de um relacionamento abusivo ela nunca é a culpada, mas a vítima. E nunca é fácil sair dessa situação. Mas a pessoa não está sozinha. Hoje existem redes de apoio as vítimas na internet e em ambientes físicos.

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